segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Mudança Étnica ou Mudança Ética? Personagens Negros nos Quadrinhos e no Cinema


Recentemente foi divulgado que Perry White (white é branco em inglês) seria interpretado por Laurence Fishburn (ótimo ator) em Superman – Man of Steel, gerando indignação de certos fãs e admiração de outros, pela ousadia do diretor Zack Snyder. Assim como foi feito com Nick Fury (de Samuel L. Jackson) nos recentes filmes da Marvel e com o Rei do Crime (de Michael Clarke Duncan) no filme do Demolidor (2003).
No mesmo dia fora divulgado outra noticia polêmica.
Saiu em Ultimate Fallout # 4 o rosto do novo Aranha ultimate. Ele é meio negro e meio latino, segundo Bryan Bendis, o criador da série Homem-Aranha Ultimate criada em 2000. Bendis se inspirou em Donald Glover, um jovem comediante, escritor e reapper norte americano que fez campanha para ser o novo Homem-Aranha do cinema. Em Ultimate Fallout # 4, o novo Aranha chamado Miles Morales estreou com um uniforme bem semelhante ao usado por Andrew Garfield no novo filme do Aranha. Talvez Bendis tivesse a intenção de fazer justiça ao ator negro, com essa nova abordagem do herói. 

Entretanto, a pressa do escritor pode ter maculado a grandiosidade da ideia com o fato de apresentar um "substituto" logo após o velório do original (quando muitos fãs ainda não haviam digerido a morte do herói) e não antes da sua morte (como uma passada de bandeira) ou então em uma revista própria, contando a origem do novo herói assumindo o legado de Peter Parker.
A intenção de Bendis foi boa, mas a forma como foi feita deu combustível para os setores preconceituosos norte-americanos protestarem, e isso pode prejudicar a continuidade do título.
Já faz algum tempo que enquanto assistia episódios de Everybody Hates Chris, percebi como a vida do personagem se parecia com a vida de Peter Parker. A forma como a história é narrada pelo personagem me fazia lembrar dos antigos desenhos e revistas e em que o Aranha parecia falar com o espectador narrando seus pensamentos e atitudes.
No caso de Nick Fury e o Rei do Crime, minha "opinião profissional" é que os atores que os encarnaram no cinema têm mais do que competência para tal. São dignos de menção e honrarias por méritos de papéis passados (Sam Jackson em Tempo de Matar, Clark Duncan em Á Espera de Um Milagre), MAS não se saíram tão bem nos respectivos papéis com seus personagens Marvel.
Gostei muito da escolha do Laurence Fishburn como Perry White e sou fan de suas atuações desde Otelo e Matrix. O que não gostei foi dos motivos que podem ter levado ao diretor escolhe-lo, pois isso pode caraterizar uma "tendência" da indústria de entretenimento norte americana a ficar mudando a etnia dos personagens a seu bel-prazer.
NÃO CONCORDO com o oportunismo (novamente essa palavra) de escritores, produtores e diretores de cinema, que criam polêmica etnicista na justificativa de “combater o preconceito” tentando estabelecer personagem heroicos negros, asiáticos e etc "por conversão étnica". Não está se criando compensações ou reparações históricas com essa "conversão étnica. Está se criando equívocos históricos e popularizando-se isso como moda. O sofrimento negro não é apagado por mudar a cor de um bonequinho de papel...

Transformar personagens negros em brancos, brancos em negros, asiáticos em brancos, asiáticos em latinos, latinos em negros e vice-versa, como uma nova abordagem, pode chegar a ser inteligente e criativo quando feito como adaptação de uma obra (filme, peça, livro), de uma época para outra, ou de um país para outro. Mas mudar a etnia de um personagem só pra idealizar uma causa, é usar o personagem como porta-voz da ideologia pessoal de um grupo ou classe social. E isso é oportunismo, sem falar na falta de respeito à "etnia nova" e à "etnia velha".
Criar novos personagens negros e dar a eles o destaque principal que merecem (vide o Spawn/All Simmons, Pantera Negra/T’Challa, Blade, Luke Cage/Mark Lucas, Tempestade/Ororo Monroe, Falcão/Sam Wilson, Cyborg/Victor Stone, Raio Negro/Jefferson Pierce, Vixen/Mari McCabe, Capitan Marvel/ Mônica Ranbou) É BEM MAIS IMPORTANTE, ATRATIVO E INTERESSANTE do que tornar um herói negro um mero “substituto” do herói branco original (vide Lanterna Verde/John Stewort, e Maquina de Combate /Jim Rhodes).
Personagens como Aço (John Henry Irons) e Senhor Incrível (Michael Holt) começaram como substitutos que se inspiraram em heróis brancos caídos, mas ganharam identidade, força e destaque por serem e muito diferentes de seus antecessores. Heróis da Milestone como Super-Choque (Virgil Hawkins) e Icon (Augustus Freeman), também se tornaram conhecidos e populares por darem uma nova abordagem aos conceitos de heróis já existentes e foram os únicos personagens negros criados por um autor negro. 
ONDE estão os autores, escritores e desenhistas negros dos quadrinhos? 
Dwayne McDuffie (escritor e produtor de desenhos animados como Super-Choque e Superan Allstar entre outros) foi o último escritor negro (que me lembre) dentro do ramo de HQs. Mas apesar da Millestone/DC ter sido criada em 1997, Icon e Super-Choque já existiam desde 1993. 

Como estamos em 2011, faz 18 anos que não se criam super-heróis negros nos quadrinhos.
ONDE estão os super heróis e personagens negros de destaque? 
“...Criam-se rótulos e tentam nos “rotular”, erguem-se bandeiras e tentam nos “enrolar” nelas...e quando nós opomos, nos chamam de inimigos...”
Que venham novos escritores negros e novos personagens negros, e que também invistam nos bons personagens já existentes.

Miles Morales merece todo nosso apoio e atenção. Se ele ganhará nosso respeito como Homem-Aranha, somente o tempo e as histórias irão dizer.

Laurence Fishburn já provou se um grande ator e se ele esbravejar um forte“...Pelo fantasma de César!!”, pra mim ele mais do que provou que ele é Perry White.

Até a próxima
Marc Gadelha

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